
Ronaldo Caiado (UB) participou nesta sexta-feira, 1º, de um episódio do ‘Diálogos’, programa de entrevistas conduzido por Vera Magalhães em celebração ao centenário de O Globo. Na oportunidade, o governador de Goiás reafirmou sua pré-candidatura ao governo federal e frisou que haverá “ruptura definitiva” entre seu partido e o governo Lula. A declaração foi a que mais repercutiu na imprensa nacional devido ao impacto político do desembarque do UB, que tem três ministros no governo. Há outros momentos que valem maior atenção.
O UB tem os ministros Celso Sabino (Turismo), Frederico Siqueira (Comunicações) e Waldez Góes (Integração Nacional). Mais cedo, na mesma semana, o presidente Lula da Silva (PT) manifestou descontentamento com a postura do presidente nacional do partido, Antonio Rueda. Entre outras declarações, Rueda afirmou que Lula tenta colher dividendos eleitorais em vez de diálogo com Donald Trump na questão das tarifas de exportação.
No programa Diálogos, Caiado buscou apresentar o que já tem feito enquanto alternativa a Lula. “Tenho mantido contato direto com Gabriel Escobar, encarregado de negócios dos EUA na embaixada americana”, disse Caiado. “Afirmei a ele que não temos por que comprometer o comércio de carnes, açúcar, couro — exportações sensíveis que Goiás. Ele disse estar repassando tudo ao secretário de governo Marco Rubio.”
O governador apresenta um trabalho que Lula — se está fazendo — não mostra. A culpa não é totalmente do presidente brasileiro; as politização da situação se agravou quando o governo americano impôs a Alexandre de Moraes a lei Magnitsky em defesa de Bolsonaro. Mas, se culpa pode não ser de Lula, a responsabilidade pela solução é.
Em contraste com Caiado, Lula adotou na imprensa internacional tom hostil: o título da entrevista estampada na capa do New York Times da última quarta-feira, 30, era “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. O presidente mobiliza o sentimento de nacionalismo avivado nos brasileiros após um ataque econômico infundado, sem dúvidas, mas a escolha pode piorar a vida econômica destes cidadãos comuns.
Com tantos “dividendos eleitorais” levantados pela briga, sobrou pouca gente pensando no brasileiro comum. É o cidadão que pagará o preço pela redução do PIB, pelo aumento dos juros, e pelo desaquecimento que haverá no mercado interno quando diminuírem as atividades dos produtores de exportações. Pensando pela perspectiva deste cidadão que vê a economia piorar, parecem cínicos os pedidos de apoio de Lula na luta contra a taxação americana, e principalmente cínicos os pedidos de defesa da família Bolsonaro, que estaria lutando contra uma “ditadura do STF” financiada com bolso alheio.
Caiado aparentou ser o adulto na sala por contraposição. Lula disse ao New York Times: “Se ele [Trump] quer ter uma briga política, então vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio”. Já Caiado disse: “Só o sul da China e Goiás têm terras raras pesadas. Goiás é o único estado no ocidente com mina já produzindo terras raras pesadas. Não há por que queda-de-braço. Nossa parceria na área de ciência (grande parte da saúde são aparelhos americanos) depende de diálogo. Fiz três audiências com Gabriel Escobar e estou esperançoso que o avanço acontecerá.”
João Henrique Campos (PSB), prefeito de Recife, que realizou o programa com Vera Magalhães e Ronaldo Caiado. Se identificando com a esquerda e a direita, respectivamente, João Campos e Ronaldo Caiado concordaram em pautas sensíveis. Na economia, João Campos opinou que o orçamento brasileiro é disfuncional e necessita de cortes. Ronaldo Caiado criticou a passividade do presidente, que esperaria o Congresso tomar as rédeas do corte de gastos. O governador lembrou a circunstância em que assumiu o estado, com R$ 6 bilhões em dívidas, e suas atitudes para diminuir despesas: reduziu os repasses dos duodécimos em 20%. “Hoje é um estado com R$ 15 bilhões em caixa”.
Na segurança, João Campos exigiu mais coordenação entre as forças, combate mais rígido à facções, uso inteligente das investigações e apreensões. Ronaldo Caiado respondeu: “Se quer enxergar tudo isso que você descreveu, vá a Goiás. O estado já teve as cidades mais violentas do Brasil, no entorno de Brasília — hoje você pode andar nas ruas na hora que quiser. Acabamos com a presença das facções, que não têm mais território algum dominado em Goiás.”