Veja como deve ficar a base de Daniel Vilela para as Eleições de 2026

As reconfigurações político partidárias em Goiás já indicam como deve ficar formatação dos grupos que disputarão as eleições estaduais e federais em outubro de 2026. Embora ainda sejam incipientes e não conclusivas, pois dependem também das decisões nacionais sobre apoio das candidaturas à presidência, as conversas ocorrem enquanto os partidos se organizam os cargos majoritários locais (governador, senador e chapas para deputado federal e estadual).
Vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (MDB), é o candidato natural à reeleição, tendo em vista que assume o governo integralmente em aproximadamente um ano. Ronaldo Caiado (UB), se desincompatibiliza do cargo para disputar a presidência da República com uma avaliação positiva em Goiás para mais de 80%, segundo levantamento Genial/Quest.

Ponto positivo para Vilela é a capacidade de transferência de votos que Caiado mostrou nas eleições municipais de 2024 a partir da ampliação do número de prefeituras eleitas dos 246 municípios, sobretudo em Goiânia, com a eleição de Sandro Mabel (UB) no segundo turno contra o PL. Tendo já um candidato a governador em 2026, o posto de vice-governador na chapa de Daniel Vilela tem um valor importantíssimo na configuração da disputa, já que a legislação permite apenas uma reeleição.
De olho na vice
Diversos nomes como o de Adriano Rocha Lima, Paulo do Vale (UB), Pedro Sales, Carlinhos do Mangão (PL), Pábio Mossoró (MDB), são sugeridos pela base para a vice. O cargo mais importante de Goiás para 2026, só deve ser definido no fechamento das coligações. Assegurados na chapa está apenas o nome de Gracinha Caiado (UB), enquanto o PL, que não tem articulado para disputar o governo em 2026, tem a preferência na indicação da segunda vaga para o Senado Federal.

Ao menos outras duas forças devem se lançar na empreitada: a liderada pelo ex-governador Marconi Perillo (atual presidente do PSDB, que espera confirmação da federação com o Podemos) e o PT, que ainda não tem um candidato, mas espera montar um palanque forte para a reeleição do presidente Lula (PT).
Embora Daniel Vilela seja uma figura de destaque nas movimentações políticas de Goiás, o papel do atual governador Ronaldo Caiado (União Brasil) não pode ser negligenciado. Em um cenário político em que a sucessão de Caiado está em jogo, a relação entre Vilela e o atual governador será um fator importante. Caso Caiado opte por se lançar na disputa presidencial, sua influência em Goiás pode mudar a dinâmica política do estado, especialmente no que diz respeito à formação de alianças e apoio a diferentes candidatos.
Exército eleitoral
Daniel Vilela também contará com uma base ampla de prefeitos eleitos em 2024: MDB, União Brasil, PP, Podemos, Avante, Agir, PRD e Republicanos conquistaram, juntos, 180 prefeituras. Somente o União Brasil garantiu a vitória em 93 cidades e deve comandar, cerca de 2,1 milhões de habitantes.
O MDB vai chefiar 40 prefeituras em Goiás. Comandado em Goiás pelo vice-governador Daniel Vilela, o resultado da legenda consolida o filho de Maguito como um dos mais influentes políticos e favorito ao governo em 2026. Parte dessa força veio pela articulação política em conjunto no Sudoeste do Estado. 27, dos 28 municípios da região terão prefeitos do MDB ou do UB.
Ex-presidente da Federação Goiana dos Municípios, Haroldo Naves disse no Jornal Opção que o herdeiro do berço político de Iris Rezende e Maguito Vilela reconstruiu o MDB no Estado e que a base de apoio à pré-candidatura de Daniel Vilela ao governo do Estado pode chegar a nada menos do que 16 partidos políticos de centro e direita, muitos deles alinhados ao projeto nacional do governador Ronaldo Caiado. “Isso demonstra o quanto a oposição em Goiás está desarticulada e enfraquecida, diante dos méritos alcançados pela dupla Caiado-Daniel”, disse.
Os presidentes da Federação e Associação dos Municípios Goianos (AGM) e (FGM), José Délio (União) e Paulo Vitor Avelar (União), eleitos praticamente por aclamação, seguem em apoio a Daniel Vilela no pleito de 2026. O prefeito de Jaraguá, Paulo Vitor, assumiu a presidência da FGM para o quadriênio 2025–2028, enquanto o prefeito de Hidrolândia, Zé Délio, foi empossado como novo presidente da AGM, com mandato até 2026.

Com o exército eleitoral de prefeitos, vereadores e das principais lideranças políticas do estado, como o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, deputado Bruno Peixoto (UB), a base deve chegar coesa a 2026, apesar de baixas naturais durante as acomodações partidárias e de apoio. Os parlamentares da base de Caiado tentam abrir duas vagas de conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), o que abrirá duas vagas de suplência na Assembleia até outubro deste ano.
Quando ocupar a vaga de Valcenor Braz, deputado estadual Talles Barreto (União Brasil) — líder do governo de Ronaldo Caiado (UB) na Assembleia Legislativa, abrirá caminho para suplente de deputado Álvaro Guimarães do (União).
Composição
Atualmente, a base de apoio de Daniel Vilela é composta por uma série de partidos políticos que demonstraram apoio ao seu projeto de governo. Partidos como o Avante, Solidariedade, Republicanos e PP fazem parte de sua coalizão. Essa base, embora diversificada, representa uma união pragmática entre siglas que buscam alinhar seus interesses regionais com a figura política emergente de Vilela. Na reeleição de Ronaldo Caiado (UB) em 2022, fizeram parte da coligação o MDB, União, Podemos, PTB, PSC, PSD, Avante, PRTB, PP, Solidariedade, Pros e PDT. No meio do caminho, PTB e Patriotas se fundiram, virando o PRD.
O Podemos, por outro lado, caminha para se federar com o PSDB, já o PSC não conseguiu atingir a cláusula de barreira e se fundiu com o Podemos, que também deve sumir. Apesar do caminho sedimentado para a federação, as principais lideranças da legenda, o prefeito Eurípedes do Carmo e o deputado federal Glaustin de Fokus, devem ser resistência no partido e manter o apoio a Daniel. Espera-se, contudo, que mudem de legenda, caso a federação seja concluída. Ou seja, será um partido sem a principal força: quem tem mandato.
Impacto da federação PP/UB
A criação das federações partidárias no Brasil foi formalizada por meio da Lei nº 14.208, sancionada em 28 de setembro de 2021, como parte de um pacote mais amplo de mudanças na legislação eleitoral. A medida surgiu em meio à discussão sobre a fragmentação partidária no país e visava permitir que dois ou mais partidos atuassem de forma unificada nas eleições e durante toda a legislatura, funcionando como uma só agremiação, sob pena de punição em caso de rompimento antecipado. A novidade representou uma alternativa às coligações proporcionais, que haviam sido extintas na minirreforma eleitoral de 2017, e buscava equilibrar a necessidade de fortalecer legendas menores com a exigência de fidelidade e coerência programática ao longo do mandato.

A fusão entre o PP e o União Brasil representa uma das maiores movimentações políticas de Goiás nos últimos anos. Para Daniel Vilela, a entrada desses partidos em sua base não é apenas uma questão numérica, mas estratégica. O PP, tradicionalmente um partido com forte presença no interior do estado, possui uma rede de apoio política consolidada, o que pode se traduzir em uma maior capilaridade eleitoral.
A Federação entre o União Brasil e o Progressistas deve trazer novas legendas para a base que vai disputar em 2026. É o caso do PL, que articula uma das vagas ao Senado na chapa da base governista para as eleições de 2026. A despreocupação de Daniel Vilela com a federação tucana tem a ver com o fato de as duas principais lideranças do partido, o deputado federação Glaustin da Fokus e o prefeito de Bela Vista de Goiás, Eurípedes do Carmo, esvaziarem as fileiras da legenda caso se concretize.
Por outro lado, o União Brasil, com sua força nas grandes cidades e sua forte base no Congresso, também representa um trunfo na composição da base política de Vilela. A integração desses partidos à coalizão de Vilela não só amplia o espectro de apoio, mas também garante mais recursos e articulação política para as futuras campanhas.
Desafios
Apesar das vantagens proporcionadas pela diversidade de partidos na base de Daniel Vilela, há desafios a serem enfrentados. Um dos principais obstáculos será a manutenção da unidade entre partidos de diferentes espectros ideológicos, especialmente em um cenário onde as disputas eleitorais se tornam mais polarizadas. A capacidade de Vilela em articular interesses divergentes e manter a coesão dentro de sua base será crucial para o sucesso de sua candidatura.
Além disso, um fator relevante será a questão da representatividade no Congresso. Com a eleição de novos deputados estaduais e federais, a capacidade de Vilela de formar alianças com parlamentares influentes será determinante.
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A outra cara da velhice: o drama de familiares que se tornaram cuidadores dos próprios idosos
03 maio 2025 às 21h00
“Eu ajudo eles e acaba não sobrando hora para me ajudar”, disse Helena Urzeda, que cuida da mãe há cinco anos
Até 2070, mais de um terço (37,8%) dos brasileiros serão idosos, segundo o IBGE | Foto: Reprodução / EBC
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Dona Irenides precisa tomar remédios às “sete da manhã, onze horas, depois do almoço, três da tarde, depois cinco, sete horas e dez da noite”. A filha, Helena Urzeda, de 60 anos, sabe de cor quais e quantos remédios, nos horários corretos. A mãe, com 81 anos e os problemas no coração e a artrose, preenche os pensamentos do dia inteiro da filha.
Com oito irmãos, Helena é a maior responsável pelos cuidados que a mãe necessita há cerca de cinco anos. Começou a levando aos médicos, até que a levou para casa. Nos últimos quatro meses, moraram juntas – mesmo que a idosa não reconhecesse a casa como sua. Nas palavras de Helena, Irenides estava morrendo quando deixou a casa onde morava, em Mato Grosso, para se instalar em Goiânia, aos cuidados dela.
“Eu virei mãe, não só dela, mas da família inteira. Eu não assumi esse papel, me impuseram esse papel. Eu comecei a levar [no médico] e foi ficando. E aí se outro familiar passa mal, liga pra mim. Acaba sendo muito desgastante, porque sobra pouco tempo para a gente. Toda hora alguém precisa. Eu ajudo eles e acaba não sobrando hora para me ajudar”, contou Helena.
Ela disse que mudou toda a rotina da casa para adaptar ao ritmo da mãe. “Estava com almoço e jantar prontos antes do horário dos remédios, porque ela tinha que comer para tomar remédio. 21 horas todo mundo tinha que dormir, porque ela queria dormir”, disse Helena. “Quando ela vem [para Goiânia], ela já não está dando conta de andar, de tomar banho sozinha. Faz xixi na roupa”, contou.
Helena é costureira de facção. “Os outros trabalham de carteira assinada e eu trabalho em casa. Eles acham que, por eu trabalhar em casa, eu não trabalho”, desabafou. Ela contou que, muitas vezes, deixava o trabalho para a noite ou fim de semana, quando a rotina de cuidados desacelerava e não precisava levantar tantas vezes da máquina de costura. “Quando dava, eu trabalhava, mas eu mudei minha vida toda. Eu não tenho salário. Se eu trabalhar, eu tenho dinheiro. Se não trabalhar, não tenho”, contou.
“A questão financeira foi a parte mais difícil, mas o que mais me afetou foi o cansaço emocional. E por fazer sozinha, porque não tinha ajuda de ninguém, nos primeiros dois meses foi difícil. Até depois fica o cansaço. A gente cansa, né? Por mais que a gente queira [ajudar], cansa”, disse Helena.
A velhice vem devagar, mas chega para todo mundo. Em Goiânia já são 216,5 mil idosos (pessoas com mais de 60 anos), de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. Isso representa 15% do total da população goianiense – um número que está em crescimento, comparado aos 9% do censo de 2010.
“No fim, a gente sempre precisa de cuidado. Tem que ter muita paciência, muita resiliência, tem que ter amor, porque senão você não dá conta”, disse Helena.
Até 2070, mais de um terço (37,8%) dos brasileiros serão idosos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os estudos também indicam que Goiás terá mais idosos do que nascimentos a partir desse ano.
Mudanças

Do outro lado de Goiânia, a fisioterapeuta precisou repetir para Dona Eva parar o sobe e desce com a perna pelo menos duas vezes. Mesmo sem conseguir caminhar, as pernas não descansam e continuam o movimento até se tornar automático. Aos 73 anos, Eva Alves de Souza já teve quatro AVCs e conta com os cuidados das filhas todos os dias.
As cinco irmãs – filhas de Adão e Eva – dividem os R$ 600 em remédios todos os meses e pagam juntas. Uma delas mora com a mãe. Outra, Mislene de Souza, de 46 anos, só não dorme, mas passa o dia por conta dos cuidados. “Não é fácil. Eu vendo a situação dela, ela não fica em pé, né? Sabendo que a minha irmã não dava conta sozinha, então eu tive que mudar a minha vida”, contou Mislene, de olho em cada exercício.
As duas irmãs trabalham passando roupa e levaram o serviço para dentro de casa por serem as responsáveis pela mãe: dão os remédios (e se orgulham da diabetes controlada), comida, levam para a garagem para ‘assistir o movimento’. A fisioterapia quem paga é uma sobrinha, uma vez por semana.
Mislene acha que o restante da família devia ajudar mais. “Todo mundo é muito distante. Aqui é só eu e minhas irmãs e os parentes não ajudam. Eu acho que quem não ajuda [financeiramente], eu acho que tinha que dar alguma coisa para ajudar a gente e não tem isso… aqui se falar isso, dá é briga”, disse.
A filha relata as saudades da Dona Eva: passar horas dançando forró e de ficar em pé na boca do fogão, “o sonho dela é andar de novo”, disse Mislene. O primeiro AVC que Dona Eva sofreu foi há 24 anos, o segundo foi durante a pandemia, e teve outros dois no último ano, quando deixou de sustentar o peso do próprio corpo e caminhar.
“Eu sinto que eu tô revertendo o que ela fez por mim, mas não chega nem em 1%, ela fez muito mais. Tudo que eu faço para ela, eu acho que está pouco ainda, que eu devia tá fazendo mais. Eu tinha que fazer mais”, disse Mislene.
Mesmo sabendo que a velhice alcança, ainda é notável o despreparo do município e o medo dos familiares em lidar com as doenças e com o retorno dessas pessoas à dependência. Precisam de cuidados. “Foi assim: só pelo impulso e Deus”, admitiu Mislene sobre as mudanças na própria vida e o preparo para assumir o papel de cuidadora.
A Creche
Desde quando estava em campanha, o atual prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, defende a criação de um Centro Municipal de Atenção aos Idosos (CMAI), apelidado de ‘creche para idosos’. No espaço, a terceira idade teria acesso a atividades de bem-estar e integração durante o dia, para depois retornarem às suas casas.
A ideia de Mabel ainda não saiu do papel. Com a mesma proposta, o Centro do Idoso do Vera Cruz, em Goiânia, faz um serviço de “fortalecimento de vínculos para pessoas idosas” e atende – em média complexidade – 117 pessoas. Fabiano Baptista, parte da diretoria do Centro, afirma que o centro do idoso deveria estar no mesmo grau de importância que as escolas, para a população, afinal, o país está envelhecendo.

“O que a gente vai fazer? Onde esses idosos vão ficar? Qual o impacto na economia? Qual o impacto na previdência? Qual o impacto existe em moradia?”, questiona Fabiano sobre o envelhecimento do país. Ele defende os Centros enquanto alívio para as famílias. Por lá, os idosos passam o dia fazendo atividades, diferente de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).
“Olha o drama que essas famílias estão vivendo. A família precisa deixar esse idoso não no fundo da casa, no quartinho, mas num ambiente de convivência onde eles vão conversar com pessoas da vivência deles, da história deles, da idade deles. Vão fortalecer esses vínculos sociais por meio de pessoas que são da mesma geração. A família é uma parceira nossa. Nós estamos cuidando dos avós, dos tios e pais deles”, explicou.
No entanto, Fabiano repreende a escolha de termos do prefeito: “remete a etarismo, a infância. Sendo idoso, não é creche, não é escolinha. Não se pode diminuir a autonomia de um idoso colocando buchinhas, uns brinquinhos engraçados. Para o idoso, isso é até meio ridículo. Eles não gostam desse tipo de tratamento”.
“Os idosos têm autonomia de pensamento, não querem ser tratados como crianças. Eles querem ser tratados como pessoas idosas mesmo, que são dignas de cuidado, paciência e respeito. Nosso lema é: respeito não envelhece”, disse Fabiano.
O Centro é uma entidade sem fins lucrativos e sobrevive com eventuais recursos da Prefeitura – segundo Fabiano, nenhum decreto liberando esse dinheiro para o Centro foi assinado neste ano – e com a ajuda da comunidade. Nos últimos meses, ele afirmou que estão “trabalhando no vermelho”, mas não podem parar.
O Jornal Opção solicitou um posicionamento à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, da Prefeitura de Goiânia, sobre o dinheiro do Fundo Municipal do Idoso, o projeto do CMAI e a possibilidade de chamamento público para destinar recursos a projetos de apoio aos idosos. No entanto, a secretaria não respondeu.